luz....

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sábado, 23 de abril de 2011

CONFISSÃO



Bhrem

Eu nunca tive coragem de escrever sobre você,
Nem de relatar a forma o jeito de ter te conhecido
Nunca citei as maneiras os enleios, os enredos
Arremedos de todos os meus medos
Nunca citei a cor da esperança dos teus olhos
Nem sequer tomei para mim a lembrança da
Tua boca selada na minha
Nunca tive coragem de descrever
Tuas pernas cruzadas, enroladas, mais cruzadas nas minhas
Nunca relatei o macio gosto do tato das minhas mãos nos cachos dourados dos teus cabelos

Não tive coragem de relembrar os quinze anos de tua ausência
No meu corpo
Na minha pele
Não na minha mente
Não da minha memória
Nunca de mim

Era teu palhaço
Assim você dizia
Rindo quando rusgávamos de bobagens tão vãs
Que agora nem penso mais quais são e como foram
Sei que foram bobagens
Mas desde o dia que você se foi, eu fiquei só
Recebi de presente a maldição da tua ausência
O gosto fúnebre da tua falta
Virei sim um grande palhaço
Dum picadeiro sem palco
Sem luz
Sem platéia
Sem música sem você

Virei filho de uma maldita maldição
Perdi o amor
Tão novo
Tão vivo
Perdi o amor
Você levou
Levou tudo
Levou minhas lembranças
Meu desejo
Minha paixão
Meu sexo
Levou eu contigo

Deixou aqui uma casca
Suja, doente, que tentou amar, que tentou se amar
Que tentou achar você em tantos outros
Em tantas outras histórias
Em tantas outras formas e...
Nada...
Nada adiantou

Hoje numa noite de Paixão
Numa sexta de chuva pesada,
Resolvi abrir meu calvário
Como a chuva que desce, conduzida pelos raios e trovões
e...
E lançar finalmente minha dor minha perda
Minha confissão
Minha morte em vida morte...

Cadê você¿
Cadê você¿
Onde estou eu¿
Eu me perdi a quinze anos em você
Nos teus braços
Na tua cama
No teu carro
Na tua boca

Perdi-me
Num beijo
Selado gostoso, amado
Numa beira de um rio tão longe, numa folha do passado
Fomos banhados pela luz do sol, de um entardecer que ficou aqui guardado

Cadê você que me atendia os telefonemas
Surdo, mudo, carrasco
Hoje você tem meio século de idade
Eu meus meros trinta e cinco anos
Sinto-me velho
Tenho centenárias dores
Milenares vontades de te ver de resgatar tudo de novo
De lembrar a noite em que você me roubou o primeiro beijo
Lua pálida, prata no ar, cândida nas águas...
Assustou-me
Deixou-me faceiro, tremendo, sem graça, com vontade
Com vontade de te amar, de viver em você
Achei meu príncipe
Achei meu corcel alado
Achei então o que todo homem que ama igual sempre quis achar...
Um grande amor

Tivemos músicas
Sim tivemos
Lembro de todas elas,

Que saudades das tuas mãos
Que saudades do teu corpo
Procurando o meu, numa cama qualquer
Que saudades do nosso encaixe perfeito
Nunca mais consegui ter um encaixe perfeito
Você levou a forma

Se eu tivesse coragem
Teria ido atrás de você
Entenderia teus medos
Atenderia teus apelos
Seria forte por você
Mas não fui
Nem fui
Não entendi, na época nada
Até hoje não entendo nada

Quando ando pelas tuas ruas
Na tua cidade, cidadela
Juro
Ando por todos os lados
Até o dia de hoje, pensando em esbarrar em você
Assim como num filme, você sorrindo eu lágrima debruçada no chão
Nós num café
E o livro sendo aberto e reescrito novamente
Mas nada...
Não te vejo em nada, nem em ninguém
Os falsos amores que hoje luto, quero, busco...
São falsos
Eu sei que são
Todos são para compensar tua falta...

Ouço uma música que me fala...
“Nunca me abri deste jeito,
A vida é nossa, nós a vivemos da nossa maneira
Todas estas palavras, eu não simplesmente digo[por dizer]
E nada mais importa.” - Nothing Else Matters - Metállica

Nada mais importa,
Quero decidi-me começar agora
Tardiamente agora uma nova vida
Largarei tudo, todas as conquistas
Tudo, deixa que fique para trás
Vou finalmente viver
Finalmente vou ser eu com vontade e de verdade
Largarei esta terra suja de maldades,
Largarei minhas tranqueiras todas...
E vou viver algo novo num lugar novo, sumir na minha escuridão, nas minhas saudades, na minha tela de lembranças emoldurada em você

Mais chuva forte lá fora
O céu relata cada movimento
Chorei, chorei a cada letra digitada aqui...
Mas isto me alivia
Isto me condiciona a planejar a mudar
Mudar agora, antes que seja tarde
E está quase tarde.

Gilmar o nome que marcou minha alma
Meu coração, meu corpo
Mais forte que tatuagem, mais dolorido que ferro em brasa
Gilmar, que eu tentei transformar em tanto nomes
Que aqui não me atrevo a chamar, a invocar
Eles não merecem minha dor, nem meus tormentos
Tudo falso, tudo mentira
Eu queria cada um deles
Pelo teu nome
Que hoje é minha chaga
Meu expurgo em dor

Eternamente

Vou seguir você
Guardar você na minha memória
Como dor,
Como amor
Como aprendizado
Como falta
Como uma busca...

vISITA

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Trabalho

Depois de um dia farto
Com tanta gente
Tanta música
Tanto trabalho
Em panos coloridos, e eu de sentimentos cinza
A noite cobre as praças
Enrola as ruas
Eu... breu em meus olhos
Vejo mais gente
E capto teu corpo
Teu sorriso
Você sente minha presença
E não a menciona
Vira para si, e me deixa ali
Eu fico sim fico ali
Como figurante, num canto
Copo vazio de cenário, cheio de tranqueiras e nadas, e...
Mais gente
Em todas as praças, em todas as ruas

Eu...

Volto para casa
E infelizmente fico sozinho
E isto me dá medo
Horror
Pavor
Cada vez que fico assim em mim
Releio em minha memória você, e isto é tortura, tudo queima em mim

Tenho medo de voltar para casa
Estacionar o carro
Fechar os portões
Ligar as luzes
Girar a chave
Lavar o corpo
Lavar em lágrimas, (velhas conhecidas) a memória
Em figuras nítidas de você

Cada passo
Cada momento
Cada gesto teu
Eu fotógrafo
Você modela meus desejos,
Eu viajo em devaneios tão sós

Queria ter você ao meu lado
Como queria
Você já sabe do meu amor
Já sabe da minha espera
E agora te vejo da maneira
Que nunca quis ver
Te vejo, e isto me dói
Vazio
Sem conteúdo
Solto, vago...
Uma interrogação
Que faz de tudo para aparecer
E parecer uma exclamação
E me deixar como uma reticência, solta no fim de orações sem noções

Quem exclama sou eu!
Quem te questiona sou eu¿
Quem sabe de você sou eu.
Pelo menos queria acreditar que fosse eu...
Reticencioso eu...

segunda-feira, 18 de abril de 2011



Coragem

Hoje não sei como,
Nem sei de onde recolhi forças
Mexi com a terra, remendei os céus
Caí todas as estrelas...
Engoli o vento e contei a verdade para você
Te amo, disse com todas as tortuosas palavras
Te amo, olhando nos teus olhos
Te amo, desejando tua boca
Te amo, suplicando teus abraços

Olhei nos teus tristes olhos
Senti minha boca triste
Seca
Doente
Pedi perdão por te amar
Relatei minhas fraquezas

Te escondi no meu teatro
Abri meu palco
Abri meu coração
Encenei minha tragédia
Entreguei-te minha alma
A qual você já sabia que era toda tua
Banhei nossa conversa
Minha conversa
Em lágrimas
Que se tornaram nossas...

Não deixei você falar
Tinha medo de cada resposta
De cada gesto
De cada abraço
Te relatei meus desejos
Mostrei minha carne, minha lágrima, meu suor, minhas pupilas saltadas, fugindo das órbitas de uma razão sem pai sem mãe, sem eira; sem beira

Contei sobre você em todas as minhas orações
Dos meus medos
Das minhas letras; das poesias todas feitas como esta, para você...
Te contei dos meus desejos dos meus anseios
Cobrei-te coisas do passado
Gestos errados
Falas perdidas
Lágrimas caídas

Tua mão tocou a minha
Liguei a música
Que me lembra que me relata você
Vi tua boca tremer
Minha vergonha aflorar
Meu peso desabrochar
Minha mãe me abraçar
Beijar minha face
Cuidar-me amparar
E eu com o pensamento em você
Eu todo em você
A música antiga tocando
Repetidamente tocando


E eu remoendo cada verso como uma inspiração
Funesta, ridícula, doentia
Amar adoece a gente
Eu estou doente
Não quero remédios
Não quero bálsamos
Quero só você!

Você não soube escolher as palavras
Mas agiu, tocou-me
Demonstrou um amor tímido, vergonhoso, pequeno, escondido
E tocou-me!
Mandei você embora,
Mas você não ia
Não sei se por pena
Ou por não saber como agir, reagir, querer rir...
Não sei!

Mandei você embora
Com a voz rouca perdida
No palco
Garganta doída
Palavras perdidas nas paredes do teatro
Você não ia
Ficava me olhando
Fitando meus olhos
Querendo mais
Ou pedindo ajuda

VAI!!!
Não vou mudar com você
Nem tenho como
Não consigo mudar o que amo
Não consigo brigar com o que desejo
Pois amo!

VAI!!!
E me deixa aqui, no meu lugar
No meu lugar só
NO FIM DO ESPETÁCULO, EU APAGO A LUZ; SÓ!
Entre paredes centenárias
Incrustadas de histórias
Não sei se de amor ou de guerra, mas...

VAI!!!
Que eu aqui te desenho na minha memória
Indo pequeno
Pesado
Sem ter a coragem de olhar para trás
Esperando eu chamar
Eu chamo!
Você olha, eu profetizo o nosso futuro
E você apenas olha, não sei eu, e teme o que vai dizer...

No meu devaneio
TE AMO!

VAI!!!!
Fecha a porta
Que vou apagar a luz...
Sempre eu apago a luz...
Sozinho e sem coragem apago a luz...